quarta-feira, 3 de novembro de 2010

"A perda me odiava. Só assim se explicaria que me magoasse tanto."

Recife, 02 de novembro de 2010.



Foi no dia dos mortos que dois vivos se encontraram. Desse encontro nasceu o amor... Cinco anos depois no mesmo feriado ele morreu, e uma parte de mim também se foi com ele. Neste dia vesti preto. Poderia ser em respeito a representação do feriado ou pelo luto que meu coração carregava, mas o pretinho indefectível me deixa muito mais bonita.

Achei que não iria chorar ao escrever esse episódio, mas as lágrimas foram inevitáveis. Nada é tão perturbador... meu desconforto é de outra ordem.

Há um tempo atrás achava que andava no caminho correto, mas dobrara a esquina errada em algum lugar, onde as coisas ainda pareciam minha vida. Algumas vezes, simplesmente não conseguia acreditar naquilo. Aquela sensação doentia de que alguma coisa estava errada voltou a me perseguir. Ela me invadia tomava conta de mim como uma força física. Batia em mim, tirando-me a vida. Era selvagem.

A perda me odiava. Só assim se explicaria que me magoasse tanto.

Quantas vezes escutei a mesma frase: “- Você tem que se amar. Você deve vim em primeiro lugar.” Mas acho que o outro importava mais para mim do que o meu amor-próprio. O amor-próprio não mantém você aquecida à noite, nem escuta você no fim de cada dia e nem lhe diz que adora fazer sexo com você.

A vida seja lá como for, segue em frente. Sempre fui imensamente grata as pessoas que me amam. Mas, simplesmente, não existia substituto para a perda de um homem que era o companheiro da minha alma, meu melhor amigo, meu amante, a única coisa em que eu confiava em mundo nada confiável.

As noites de sono foram restauradas . A dor da perda que sentia era grande demais para me deixar dormir. Qualquer coisa para deter aquele sentimento. Sentia-me insuportavelmente solitária.

Sempre tive a necessidade de sentir a raiz firme das coisas. Eu apaziguei tanto a vida, cuidei para que ela não explodisse. Me mantive sempre em serena compreensão e terminei expulsa dos meus próprios dias. O mundo se tornara de novo um mal estar.

Já não acordo mais num sobressalto, fitando a escuridão e preocupando-se com tudo, desde “Será que vou me tornar desnecessária?” a “Será que algum dia encontrarei alguém que realmente me ame?”. Não se preocupe quanto a última indagação, já encontrei.

Essa sensação de perda só não me dói mais porque sei que não sofri só. Porque a lembrança não foi só minha. Porque a amargura do momento não estava apenas na minha memória. Foi recíproco. Cada um sentindo a sua maneira, tentando esquecer ao seu modo.

É nesse ciclo que a vida segue. Aqui jaz um amor para que outro venha nascer. E decidir-se por viver um novo amor parece ser uma experiência tão desafiante... mas, eu adoro desafios. A maturidade nos dá certeza sobre aquilo que buscamos.

Penéllope Aquino

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