Recife, 02 de novembro de 2010.

Foi no dia dos mortos que dois vivos se encontraram. Desse encontro nasceu o amor... Cinco anos depois no mesmo feriado ele morreu, e uma parte de mim também se foi com ele. Neste dia vesti preto. Poderia ser em respeito a representação do feriado ou pelo luto que meu coração carregava, mas o pretinho indefectível me deixa muito mais bonita.
Achei que não iria chorar ao escrever esse episódio, mas as lágrimas foram inevitáveis. Nada é tão perturbador... meu desconforto é de outra ordem.
Há um tempo atrás achava que andava no caminho correto, mas dobrara a esquina errada em algum lugar, onde as coisas ainda pareciam minha vida. Algumas vezes, simplesmente não conseguia acreditar naquilo. Aquela sensação doentia de que alguma coisa estava errada voltou a me perseguir. Ela me invadia tomava conta de mim como uma força física. Batia em mim, tirando-me a vida. Era selvagem.
A perda me odiava. Só assim se explicaria que me magoasse tanto.
Quantas vezes escutei a mesma frase: “- Você tem que se amar. Você deve vim em primeiro lugar.” Mas acho que o outro importava mais para mim do que o meu amor-próprio. O amor-próprio não mantém você aquecida à noite, nem escuta você no fim de cada dia e nem lhe diz que adora fazer sexo com você.
A vida seja lá como for, segue em frente. Sempre fui imensamente grata as pessoas que me amam. Mas, simplesmente, não existia substituto para a perda de um homem que era o companheiro da minha alma, meu melhor amigo, meu amante, a única coisa em que eu confiava em mundo nada confiável.
As noites de sono foram restauradas . A dor da perda que sentia era grande demais para me deixar dormir. Qualquer coisa para deter aquele sentimento. Sentia-me insuportavelmente solitária.
Sempre tive a necessidade de sentir a raiz firme das coisas. Eu apaziguei tanto a vida, cuidei para que ela não explodisse. Me mantive sempre em serena compreensão e terminei expulsa dos meus próprios dias. O mundo se tornara de novo um mal estar.
Já não acordo mais num sobressalto, fitando a escuridão e preocupando-se com tudo, desde “Será que vou me tornar desnecessária?” a “Será que algum dia encontrarei alguém que realmente me ame?”. Não se preocupe quanto a última indagação, já encontrei.
Essa sensação de perda só não me dói mais porque sei que não sofri só. Porque a lembrança não foi só minha. Porque a amargura do momento não estava apenas na minha memória. Foi recíproco. Cada um sentindo a sua maneira, tentando esquecer ao seu modo.
É nesse ciclo que a vida segue. Aqui jaz um amor para que outro venha nascer. E decidir-se por viver um novo amor parece ser uma experiência tão desafiante... mas, eu adoro desafios. A maturidade nos dá certeza sobre aquilo que buscamos.
Penéllope Aquino
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